"A vida é uma farsa que todos devem representar. A nossa pálida razão esconde-nos o infinito..." (Rimbaud)
"Vida é o drama criativo da existência." (Arthur da Távola)
“A vida, afinal, talvez seja uma encenação do desespero”. (Alberto Raposo Pidwell Tavares)




segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Confissões de Adolescente

Sinto decepcionar, mas não agüento mais ser a “boa menina”! Não suporto mais carregar nas costas o peso do mundo... a excessiva carga da responsabilidade de ser “modelo de perfeição”, de ser “exemplo de coragem e determinação”... Cansei de ter que ser sempre uma “fortaleza inabalável”... de ter que agüentar de frente e em pé as porradas da vida... de não poder lamentar perdas, chorar derrotas ou amargar fracassos... Não quero mais dizer sempre “SIM” a tudo e a todos só pra não ferir, magoar ou desagradar a ninguém... Chega de ver tudo e todos com “bons olhos”... de acreditar que todo mundo é bonzinho, inocente, inofensivo até que me provem o contrário...

Deixem-me ser frágil... permitam-me errar de vez em quando pra aprender de outras formas... concedam-me o direito de meter os pés pelas mãos, de fazer burradas e precisar que alguém me ajude a consertá-las...
Deixem-me ser molenga ... permitam-me recuar, desistir vez por outra sem precisar sentir culpa... concedam-me o direito de fracassar e ainda assim ser aplaudida simplesmente por ter tentado...
Deixem-me ser desagradável e má... permitam-me experimentar o sabor de dizer um sonoro “NÃO” a alguém quando me der vontade... concedam-me o direito de hostilizar pessoas que se aproximam de mim só pra tirar algum proveito...
Deixem-me ser covarde... permitam-me experimentar uma fuga aqui, outra ali, enquanto o tempo passa e as coisas se acomodam sem que eu precise lutar por isso... concedam-me o direito de sentir medo, de chorar e me dêem colo aos invés de críticas... “Quem sabe eu ainda sou uma garotinha!”

Sinto decepcionar, mas não consigo mais fazer o papel da “boa moça”... eu preciso exercitar o meu lado vilã... Quero experimentar o gostinho de mexer o caldeirão, de preparar uma poção mágica e envenenar a maçã ao invés de comê-la e depois “deitar e fingir de morta” até que o príncipe encantado apareça... Preciso, ao menos uma vez, ser a madrasta malvada ou a irmã feiosa que se dá bem durante a estória toda, em vez de ficar esperando pelo último parágrafo pra calçar o sapatinho de cristal e passar de gata borralheira a princesa, num passe de mágica...

Já percebeu que normalmente o mocinho sofre, apanha e perde o tempo todo pra ser herói nos instantes finais, enquanto o bandido se dá bem durante o filme inteiro?! Pior... às vezes (eu arriscaria até dizer que na maioria delas), você ainda torce pelo bandido, porque ele é bem mais esperto e consegue sempre driblar o babaca do mocinho, que só o vence no último momento, um pouquinho antes de exibirem os créditos (aquelas letrinhas que aparecem quando termina o filme) e geralmente vence por um golpe de sorte ou num daqueles terríveis “duelos” onde ele (mocinho) é à prova de balas... granadas... canhões... bazucas... explosões e toda sorte de instrumentos letais...

Ah! Definitivamente, eu agora quero ser o bandido... a bruxa má... a vilã... a madrasta impiedosa...
Cansei de me privar do direito de cometer erros e me sentir culpada por não conseguir fazer tudo dar certo o tempo todo... Deixem-me ser humana... permitam-me cometer erros como qualquer ser humano... concedam-me o direito de fazer coisas que seres humanos fazem... Erradas? Pra quem? Família? Amigos? Sociedade? Quem se importa? A coisa mais memorável que eu fiz nos últimos meses foi cometer a burrada mais homérica da minha vida... eu nunca, até então, havia sido tão absolutamente irresponsável e inconseqüente... eu nunca antes tive o prazer, o orgulho e a felicidade de ser tão absolutamente irresponsável! Nunca pensei que ser COMPLETAMENTE IRRESPONSÁVEL pudesse me fazer tão FELIZ!

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