"A vida é uma farsa que todos devem representar. A nossa pálida razão esconde-nos o infinito..." (Rimbaud)
"Vida é o drama criativo da existência." (Arthur da Távola)
“A vida, afinal, talvez seja uma encenação do desespero”. (Alberto Raposo Pidwell Tavares)




sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Estigmas

Certo ou errado?!
Certo ou errado?!
Quem não pula o muro
Não aprende a se arriscar
Não tá com nada... oh! oh! oh!
Não tá com nada...

Certo ou errado?!
Certo ou errado?!
Quem não sai na chuva
Não aprende a se molhar
Não tá com nada... oh! oh! oh!
Não tá com nada...

("Certo ou Errado",interpretada por Patricia Marx - Composição: Michael Sullivan e Paulo Massadas)

CERTO ou ERRADO?!

Entre tantos outros questionamentos e conflitos que incessantemente insistem em me invadir, este é, sem sombra de dúvida, o que assola meus pensamentos com maior freqüência ultimamente. Aí hoje, assim do nada (ou como quem não quer nada) me veio à mente essa musiquinha (“é a nova!”)... então eu resolvi compartilhar a minha dúvida: o que, afinal de contas, é o CERTO e o que é o ERRADO além de meros conceitos que a gente aprende ao longo da vida, de diferentes formas, em diferentes lugares, em diferentes momentos, com diferentes pessoas...?!

É claro que eu não estou falando de profundos valores morais e éticos, como honestidade, caridade, respeito... consensualmente definidos pela sociedade como “certos”; nem tampouco de matar, roubar ou destruir a natureza, considerados “errados” em qualquer lugar do mundo. Aliás, se bem analisados, até mesmo estes valores podem ser relativos, dependendo do contexto... mas, isso não vem ao caso... Não se trata disso! Ao contrário, estou falando mesmo é das coisas mais banais do cotidiano, de pequenos “valores toscos” que aprendemos em casa, na escola... Estou falando de “valores” culturais, individuais, familiares... valores herdados, embutidos em nossas mentes, tão arraigados em nossa alma que parecem fazer parte dela, de tal forma que sequer questionamos o seu porquê... simplesmente os internalizamos e cumprimos, passando-os de geração a geração “sem qualquer dúvida” de que o certo e o errado são exatamente como aprendemos que era... Estou falando de conceitos apreendidos ao longo da vida, decorrentes de uma criação castradora ou de uma educação rígida, e não de aprendizados capazes de nos fazer criar nossos próprios conceitos do que é verdadeiramente certo ou errado... Estou falando de “acertos” e “erros” que podem não ser tão certos ou tão errados assim... Estou falando de atos e fatos do dia a dia, tão corriqueiros como tomar um banho de chuva sem se preocupar em ficar resfriado... como pular o muro do vizinho... como roubar flores num jardim... como andar descalço na rua debaixo de sol a pino... como subir numa árvore pra roubar uma fruta de que você nem gosta pelo simples prazer da aventura... como subir escondido no telhado pra apreciar a lua e ter a sensação de que está mais perto dela...

Por que será que quando a gente é criança é tão mais fácil burlar esses conceitos medíocres dos adultos, que no fim das contas pouco ou quase nada acrescentam ao nosso caráter e quando nos tornamos adultos, muitas vezes ficamos tão hipócritas ao ponto de ainda repassá-los aos nossos filhos?! Por que, ao invés de proibi-los de fazer essas “coisas erradas”, não subimos no telhado com eles pra lhes mostrar o quanto a lua é mais bonita lá de cima? Por que não entramos secretamente nos jardins das casas pra lhes presentear com uma flor roubada? Por que não corremos na chuva com eles até ficarmos ambos resfriados?

Muitas vezes ainda ficamos furiosos quando eles desrespeitam esses conceitos, quando fazem essas “coisas erradas”... por vezes esquecemos que era exatamente o que fazíamos quando tínhamos a idade deles e os adultos tentavam nos convencer dos seus paradigmas sobre o certo e o errado...

Quanto mais eu penso a esse respeito, mais me convenço de que ainda preciso fazer muitas “coisas erradas” e parar de fazer um monte de “coisas certas”... não que eu tenha deixado de tomar banho de chuva até me resfriar ou de roubar flores nos jardins das casas ou de subir no telhado e até fazer muito mais do que apenas apreciar a lua (Ô! bem mais!!!)... mas há tantas outras “coisas erradas” que eu deixei de fazer... e há tantas “coisas certas” que eu preferia não ter feito só por causa de alguns conceitos idiotas que, mesmo questionando, eu nunca experimentei contrariar... Que loucura isso!

Mas tudo bem! Ainda não é tarde... Eu ainda tenho bastante tempo pra cometer os “erros” que eu deixei passar e “corrigir coisas certinhas demais” que eu poderia ainda fazer... Aliás, acho que estou chegando à etapa da vida em que o ser humano começa a retroagir no tempo, até voltar a ser novamente criança e desencarnar... Será que estou ficando velha?! 8-]

Como eu disse no post anterior, o momento mais feliz e memorável da minha vida nos últimos meses foi um ato de extrema irresponsabilidade... Acho que isso, entre outros acontecimentos, está me fazendo rever meus conceitos... E, sabe de uma coisa: eu tô adorando fazer um monte de “coisas erradas” no lugar das “coisas certas” que eu sempre fiz...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Confissões de Adolescente

Sinto decepcionar, mas não agüento mais ser a “boa menina”! Não suporto mais carregar nas costas o peso do mundo... a excessiva carga da responsabilidade de ser “modelo de perfeição”, de ser “exemplo de coragem e determinação”... Cansei de ter que ser sempre uma “fortaleza inabalável”... de ter que agüentar de frente e em pé as porradas da vida... de não poder lamentar perdas, chorar derrotas ou amargar fracassos... Não quero mais dizer sempre “SIM” a tudo e a todos só pra não ferir, magoar ou desagradar a ninguém... Chega de ver tudo e todos com “bons olhos”... de acreditar que todo mundo é bonzinho, inocente, inofensivo até que me provem o contrário...

Deixem-me ser frágil... permitam-me errar de vez em quando pra aprender de outras formas... concedam-me o direito de meter os pés pelas mãos, de fazer burradas e precisar que alguém me ajude a consertá-las...
Deixem-me ser molenga ... permitam-me recuar, desistir vez por outra sem precisar sentir culpa... concedam-me o direito de fracassar e ainda assim ser aplaudida simplesmente por ter tentado...
Deixem-me ser desagradável e má... permitam-me experimentar o sabor de dizer um sonoro “NÃO” a alguém quando me der vontade... concedam-me o direito de hostilizar pessoas que se aproximam de mim só pra tirar algum proveito...
Deixem-me ser covarde... permitam-me experimentar uma fuga aqui, outra ali, enquanto o tempo passa e as coisas se acomodam sem que eu precise lutar por isso... concedam-me o direito de sentir medo, de chorar e me dêem colo aos invés de críticas... “Quem sabe eu ainda sou uma garotinha!”

Sinto decepcionar, mas não consigo mais fazer o papel da “boa moça”... eu preciso exercitar o meu lado vilã... Quero experimentar o gostinho de mexer o caldeirão, de preparar uma poção mágica e envenenar a maçã ao invés de comê-la e depois “deitar e fingir de morta” até que o príncipe encantado apareça... Preciso, ao menos uma vez, ser a madrasta malvada ou a irmã feiosa que se dá bem durante a estória toda, em vez de ficar esperando pelo último parágrafo pra calçar o sapatinho de cristal e passar de gata borralheira a princesa, num passe de mágica...

Já percebeu que normalmente o mocinho sofre, apanha e perde o tempo todo pra ser herói nos instantes finais, enquanto o bandido se dá bem durante o filme inteiro?! Pior... às vezes (eu arriscaria até dizer que na maioria delas), você ainda torce pelo bandido, porque ele é bem mais esperto e consegue sempre driblar o babaca do mocinho, que só o vence no último momento, um pouquinho antes de exibirem os créditos (aquelas letrinhas que aparecem quando termina o filme) e geralmente vence por um golpe de sorte ou num daqueles terríveis “duelos” onde ele (mocinho) é à prova de balas... granadas... canhões... bazucas... explosões e toda sorte de instrumentos letais...

Ah! Definitivamente, eu agora quero ser o bandido... a bruxa má... a vilã... a madrasta impiedosa...
Cansei de me privar do direito de cometer erros e me sentir culpada por não conseguir fazer tudo dar certo o tempo todo... Deixem-me ser humana... permitam-me cometer erros como qualquer ser humano... concedam-me o direito de fazer coisas que seres humanos fazem... Erradas? Pra quem? Família? Amigos? Sociedade? Quem se importa? A coisa mais memorável que eu fiz nos últimos meses foi cometer a burrada mais homérica da minha vida... eu nunca, até então, havia sido tão absolutamente irresponsável e inconseqüente... eu nunca antes tive o prazer, o orgulho e a felicidade de ser tão absolutamente irresponsável! Nunca pensei que ser COMPLETAMENTE IRRESPONSÁVEL pudesse me fazer tão FELIZ!