"A vida é uma farsa que todos devem representar. A nossa pálida razão esconde-nos o infinito..." (Rimbaud)
"Vida é o drama criativo da existência." (Arthur da Távola)
“A vida, afinal, talvez seja uma encenação do desespero”. (Alberto Raposo Pidwell Tavares)




quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Novo olhar sobre velhas coisas...

Ontem eu ouvi uma frase muito interessante, embora daquelas que de tão corriqueiras e até banais, dificilmente nos fazem refletir sobre o seu verdadeiro valor, o que aliás, sempre acontece com as coisas corriqueiras e aparentemente banais... Dizia mais ou menos o seguinte: "o mundo dá voltas e tudo acaba voltando pro mesmo lugar, mas aí está tudo diferente..."

Muito mais por falta de tempo que de vontade ou inspiração tenho abandonado, muito a contragosto, o hábito de escrever (aliás, infelizmente tanto quanto o de ler...), mas hoje, remexendo em arquivos antigos e fazendo uma faxina nos "guardados", dei de cara com o texto que vem a seguir, que escrevi em um momento meio que distante, mas cuja leitura, por uma fração de segundos me levou ao exato instante que descreve... Incrível o efeito que tem reencontrar escritos, objetos, rabiscos, cartões, fotos ou o que quer que seja que nos remeta a um passado, do qual a gente lembra com saudade ou que, do contrário, nos causa imenso alívio por ter ficado pra trás e fazer jus ao nome de P A S S A D O... É como olhar o mundo com novos olhos... é como enxergar o cotidiano sob um novo prisma... é como aprender novas formas de ver as coisas velhas de sempre... é como perceber as tantas outras faces daquilo que se pensava conhecer bem... é como surpreender-se com novas informações ao reler pela enésima vez um livro antigo... é como fazer uma "faxina na alma" e ver quanta quinquilharia sem importância se guardou... É como perceber o quanto tudo muda silenciosamente dentro e fora da gente, sob o comando da intrigante disparidade entre a cronologia e a analogia do tempo...
A memória da gente é assim, né... você abre a gaveta e aparece a pontinha de um fio, que ao ser puxado pra fora arrasta consigo uma sequência das coisas mais diversas, que foram-se embolando aleatoriamente ao novelo na medida em que você foi enfiando coisas nessa gaveta. Essa rápida retrospectiva me lembrou as palavras de uma escritora chamada Lena Gino, que há tempos eu pretendia postar e agora finalmente veio bem a calhar... uma ótima oportunidade pra atualizar este espaço semi-abandonado! Eis o fio do novelo...


"Foi tão bom podermos passar algumas horinhas juntos durante esse final de semana... As conversas, as lágrimas, os desabafos, os conselhos... a simples companhia foi tão importante pra mim! Como eu estava (estou) precisando desse aconchego, dessa cumplicidade... como eu sinto falta de lançar um olhar de "socorro!" ou de "está doendo..." ou de "tenho uma pra te contar!" por sobre o computador e a gente correr pro nosso"esconderijo secreto" e eu poder me desnudar... poder dividir com você todas as angústias, medos, dúvidas e anseios que estiverem me sufocando; todas as perguntas sem respostas que teimo em fazer, mesmo sabendo que é em vão; todas as divagações absurdas da minha mente fértil (pra não dizer mirabolante); todos os sofrimentos desmedidos - às vezes tão absolutamente desnecessários, às vezes totalmente descabidos -, que sufocam meu coração tolo...
As nossas conversas me fizeram refletir muito e perceber o quanto eu estou perdida, sem rumo, navegando num mar de desilusões e frustrações que me levam ao nada... estou vivendo sem norte, apenas me deixando levar pela correnteza de águas que correm para lugar nenhum... e o mais estranho é que, apesar de perceber isso, pela primeira vez na vida me vejo sem a mínima noção do que fazer pra reverter essa situação. Estranho né?! É como se eu estivesse no meio do mar e ao olhar ao redor não fizesse a mínima diferença em qual direção seguir, porque qualquer lado é igual, tem apenas o nada, o vazio... Agora, eu olho ao redor, enxergo a situação quase que sem sofrer, mas não vejo solução. Será que estou acomodada, com medo de sair dessa desconfortável "zona de conforto"? É como se eu estivesse inerte, entregue ao sabor do vento que sopra essas águas, e tranquilamente disposta a ser conduzida por elas a qualquer lugar ou a lugar nenhum. Tanto faz...
Fiquei muito impressionada por ouvir de você algumas constatações que por muito tempo foram minhas e sobre as quais por tanto tempo eu tentei te convencer... Lembrei de outras vezes em que você me disse que eu tenho tanta convicção nas coisas que eu falo, que chego a convencer quem quer que seja das "minhas verdades"; que tenho tanta certeza das coisas que convenço qualquer um a pensar igual a mim. Fiquei imaginando o que é (foi) real e o que é (foi) fantasia, mesmo tendo a convicção de que jamais terei essa resposta! Eu sei que faço isso sempre, mas desta vez foi de uma forma diferente, que eu não saberia explicar...
Mas eu estou "bem"! Tudo isso é só pra te dizer que todas as coisas que você me disse, inclusive as muito ruins, foram e estão sendo importantes pra esse processo ainda inominável que eu estou vivendo... e embora essas minhas palavras sejam muito depressivas (eu sei), eu estou me sentindo muito melhor... Melhor, embora triste... melhor, embora alheia e perdida... melhor, embora sem identidade... melhor, embora não saiba mais o que eu quero de mim e pra mim..." (Escrito em 14 de setembro de 2009)

Pois é, hoje eu senti a doce vertigem dessas tantas voltas em que o mundo nos traz de volta ao mesmo lugar, e vi o quanto tudo está diferente... irreconhecível... Que bom que o mundo gira! Melhor ainda é que o tempo torna imperceptível essa "rotação" e quando a gente volta ao mesmo ponto, não consegue mais encontrar o ponto de partida... e é aí que se percebe o quanto tudo mudou, o quanto se aprendeu sobre e com a vida...

Pra finalizar, um texto de alguém que fala do que eu sinto melhor que eu mesma... Assim como Martha Medeiros, também Lena Gino obviamente sequer sabe que eu existo, mas é impressionante como ambas sempre escrevem textos que parecem feitos especialmente pra mim...


Desapego

Tem coisa mais difícil do que o desapego?

O sentimento de ter, de possuir coisas é muito gostoso...
Mas você já experimentou se desapegar?

A gente sofre pra se livrar de roupas, de sapatos. Passa anos olhando para aquele vestido no armário, achando que, um dia, vai surgir um evento.

É, pode até ser...
Mas enquanto a festa não acontece, porque não deixar as coisas fluírem?
Dá o vestido pra alguém, vende, sei lá.
Quando chegar a festa, um novo vestido vai te deixar mais bonita ainda.

Olhe em volta e veja quantas coisas você possui hoje e não usa...
Ou há anos nem vê.
Sabe aquelas caixas fechadas que a gente só lembra que tem quando se muda?

O desapego "ventila" a vida e abre espaço pra coisas novas. Limpar armários, prateleiras e gavetas dão mais leveza pra casa e pra cabeça da gente...

O mesmo acontece com o amor.

Às vezes a gente está envolvida numa relação com o namorado, o marido e até o amigo.
Aí a gente fica achando que está tudo pesado, que a troca não está sendo justa.
Ou que o outro fica longe demais, dá menos do que a gente espera...
Enfim, você descobre que merece mais, que quer mais de um amor.
Aí bate aquele medão de deixar ele ir embora.
É verdade: a gente se apega até aos amores errados.

Às vezes a gente nem ama mais, mas tem pena de se desapegar daquilo que sentiu um dia.
Aí é só tomar coragem, deixar o amor errado ir e esperar.

Acredite:
Outros amores virão, mais leves, mais bonitos, mais parecidos com você.
Não tenha medo de fazer uma faxina na sua casa e no seu coração de vez em quando.
Não dizem que deus, quando esvazia as mãos da gente, é pra poder encher de novo?

Pensa nisso...

Um comentário:

  1. Oi Vanda!
    Obrigasa pela visita e manifestação de carinho!
    Um feliz ano novo!
    bjos e até mais!

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