"A vida é uma farsa que todos devem representar. A nossa pálida razão esconde-nos o infinito..." (Rimbaud)
"Vida é o drama criativo da existência." (Arthur da Távola)
“A vida, afinal, talvez seja uma encenação do desespero”. (Alberto Raposo Pidwell Tavares)




quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Fios de Vida

A vida é mesmo um insondável mistério... Um infinito, intrigante e indecifrável mistério tecido sobre uma imensa teia de tênues fios que dividem extremos opostos, sobre os quais somos impelidos a caminhar, como que numa corda-bamba, no iminente e constante risco de perder o equilíbrio e pender para um dos lados. Bem e mal; amor e ódio; saúde e doença; alegria e dor; paz e guerra; admiração e desprezo; atenção e indiferença; paraíso e inferno; luz e escuridão... todas as possibilidades expostas em paralelo à nossa frente, divididas apenas por esses fios invisíveis sobre os quais andamos com o firme propósito de chegar a algum ponto que determinamos e que nunca será o de destino, pois sempre estaremos na busca por um novo ponto, que será o de partida para outro... e assim seguimos vida afora, cientes de que a qualquer momento o fio poderá romper-se e poderemos cair em meio ao vão, ultrapassando o tênue limiar que separa esses opostos, misturando-os, e então só haverá duas possibilidades: ou emendamos cuidadosamente o fio que se partiu para continuar nossa caminhada, ou nos enredamos na teia de tal forma que não será mais possível sair e, neste caso, quando perdemos o nosso equilíbrio e nos permitimos envolver pelos pegajosos fios dessa teia, quanto mais lutamos, esperneamos e nos debatemos, mais presos ficamos... presas fáceis de armadilhas que desconhecemos... e a vida, a vida não pára pra esperar que consertemos os fios ou que consigamos nos desvencilhar da viscosidade da teia. Ela simplesmente segue seu curso... Às vezes aparecem “anjos da guarda” que nos ajudam a recompor nossos fios; amigos que nos auxiliam a sair do vazio e subir novamente, retomando a trilha. Outras vezes, aqueles a quem julgamos amigos simplesmente nos dão as costas, porque têm pressa na sua caminhada e não podem parar ao longo do percurso pra ajudar àqueles que caíram, sem lembrar que essa teia é circular, que andamos todos sobre os mesmos fios e que, num momento qualquer, eles também poderão cair e precisar de ajuda. Mas mesmo assim a vida não pára, e se quisermos continuar caminhando, é preciso consertar os fios com nossas próprias mãos. Não é fácil, mas é tão inevitável quanto caminhar sem nunca cair. Há momentos em que dá vontade de não ter que acordar no dia seguinte, só pra não ter que seguir caminhando... mas há também outros em que tudo o que se quer é nutrir a esperança de que haverá um novo dia, onde o caminho pode ser mais fácil e em que pisaremos com mais firmeza e convicção, pois já experimentamos o (dis)sabor da queda. Mas até nisso a vida pode ser ambígua, e ao invés de ficarmos mais resistentes depois de cair, podemos nos tornar mais frágeis... A questão é que, quando o fio sobre o qual andamos se rompe, os opostos se fundem e o que era bom pode se tornar ruim; o que era amor pode virar ódio; o que era carinho, hostilidade... mas nunca o contrário, porque o que é negativo está sempre à espreita, esperando a nossa queda pra sobrepujar tudo o que havia de bom e desse lado bom, só podemos usufruir se nos mantivermos equilibrados sobre os fios dessa teia que é a vida, onde a coragem é a nossa maior aliada e o medo de cair, o nosso pior inimigo. É ele quem nos assombra, nos faz temer e tombar até despencar. É tão sórdida e traiçoeira companhia que muitas vezes só nos damos conta dele depois que já dominou a nossa coragem por completo... e então, a queda é certa.
O medo nos cega, nos faz caminhar de olhos vendados, nos adoece... não do corpo, não da mente... adoece a nossa alma, adoece as nossas emoções, adoece os nossos sentimentos... nos desequilibra e nos derruba, nos massacra e pisoteia... nos faz doentes... E como toda doença, é preciso ser tratado; difícil é perceber seus sintomas... a princípio, eles são sutis. Não há dores físicas... não há lesões aparentes... não há hematomas... há somente a devastação interior e até que estes sintomas sejam visíveis aos olhos, a doença já se alastrou e os danos podem ser irreparáveis... É muito mais delicado e complexo do que tratar doenças físicas, porque pra ele não se fabricam remédios, não há cirurgias, não há transplante... É possível trocar um coração, um rim, uma córnea... mas quem pode trocar uma alma?!
Quando o medo adoece a alma, destrói todos os outros sentimentos... desestabiliza-nos, desequilibra-nos, balança com força incomensurável os nossos fios de vida até nos derrubar. Como um ímã, nos arrasta para baixo quanto maior é o nosso esforço para emergir... e se não descobrimos a tempo os seus sintomas, ele nos vence! É uma doença voraz, que não pode ser tratada com paliativos; um mal que deve ser destruído pela raiz! Mas... e quando essa raiz ficou lá atrás, num passado remoto??? Um passado de longos anos, que nos fez caminhar sozinhos, decididos a não revivê-lo??? O que acontece??? Eu sei!
Como um vírus incubado dentro de nós, esse medo nos segue quietinho, deixando-se ser esquecido e esperando a hora certa de atacar... e nos deixa caminhar "livremente" acreditando já termos nos livrado dele, até que novos e inesperados fios se colocam diante de nós, nos convidando a segui-los... fios de caminhos que já havíamos decidido não mais trilhar... mas são tão convidativos que resolvemos nos arriscar, pé ante pé, devagarinho... depois nos arriscamos mesmo a acelerar o passo... e o medo nos deixa ir confiantes, ávidos, até que não seja mais possível voltar sobre o nosso passo... e é então que ele nos ataca de novo! Primeiro vem de mansinho, se alojando lentamente em nossa alma até nos consumir por completo e nos fazer revivê-lo com toda a intensidade de outrora... nos cega completamente e só se faz notar quando os novos fios, antes fortes e vigorosos, já estão desgastados e frágeis e já não há mais como emendá-los e seguir em frente...
E de novo nos vemos sós... alma dilacerada... mãos calejadas e trêmulas tentando novamente remendar os fios da vida que precisa continuar...

Por outro lado, agora não há mais como o medo se esconder... ele pode finalmente ser tratado, como qualquer doença, e assim como o corpo, também a alma pode imunizar-se, afinal, não é do vírus que se criam as vacinas?!
Assim como outras doenças, adoecer da alma também causa dor e sofrimento, mas não há mal que não tenha cura, pranto que não cesse, nem dor que não passe...

"Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. [...] A dor é inevitável. O sofrimento é opcional." (Drummond)

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Não era pra ser um texto triste, mas acho que ficou mesmo assim... não importa!

O Sol
(Jota Quest)

Ei, dor!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada
Ei, medo!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada...

E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou...

Ei, dor!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada
Ei, medo!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada...

E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou
É pra lá que eu vou...

E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou...

Yeah! Han!
Caminho do Sol, eh!
Lá lararará!
Caminho do Sol, eh!...

E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou...

E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou
É pra lá que eu vou...
Lá lararará, lararará
É pra lá
É pra lá que eu vou
Lá lararará, lararará
Aonde eu vou?
Aonde tenha Sol
É pra lá que eu vou
Lá lararará, lararará
É pra lá
É pra lá que eu vou
Lá lararará, lararará
É pra lá que eu vou
É pra lá que eu vou
Lá lararará, lararará...

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