"A vida é uma farsa que todos devem representar. A nossa pálida razão esconde-nos o infinito..." (Rimbaud)
"Vida é o drama criativo da existência." (Arthur da Távola)
“A vida, afinal, talvez seja uma encenação do desespero”. (Alberto Raposo Pidwell Tavares)




sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Don't stop bilieving

Incrível como as coisas (e arrisco mesmo dizer que até as pessoas) "imprescindíveis" na nossa vida, aquelas "sem as quais a gente não poderia sequer imaginar a possibilidade de viver", com o passar do tempo vão sendo estranha e repentinamente suprimidas, substituídas (quiçá descartadas, ignoradas como se nunca tivessem existido), dando lugar a outras mais urgentes e necessárias, caindo no esquecimento, ou simplesmente perdem o seu inestimável valor. Involuntariamente a gente vai deixando alguns hábitos e vontades, mudando de gostos, esquecendo velhos valores enquanto outros começam a ocupar espaço no nosso cotidiano sem sequer tomarmos consciência disso. E o mundo vai seguindo o seu curso nem sempre silencioso mas imprevisivelmente rápido, sem nos dar tempo de contemplarmos nossas pequenas metamorfoses diárias. Aí uma coisa banal acontece e... pliiiim! parece que desperta a gente do transe que nos conduz sob a regência alucinante dos ponteiros atômicos que nunca param pra esperar que se planeje o próximo passo, ou pra que se perceba o que está ficando pra trás (talvez porque muitas vezes nem seja mesmo importante!)... e nesse ritmo frenético, lembrar certas coisas ou fatos ou pessoas ou seja lá o quê que o tempo se encarregou de distanciar de nós, é como olhar pra uma antiga fotografia amarelada, com aquelas roupas agora bregas e os penteados megalomanamente estranhos em que não nos reconhecemos mais, e que mesmo assim trazem aquela saudadezinha gostosa de sentir, quase melancólica cujos motivos jamais conheceremos, de momentos passados ainda tão presentes que parecem estar acontecendo aqui e agora.
Nossa! Como foi possível que aquilo caísse no vazio do esquecimento sem sequer fazer falta ou sem nos darmos conta da enorme falta que faz?!

Mais espantoso é perceber que entre as tantas coisas que, mesmo muito importantes pra mim, andam esquecidas no fundo de uma das velhas gavetas da memória que quase nunca abro (ao menos não com a frequência com que costumava ou gostaria), ou andam encobertas pela fina poeira da cômoda desculpa de que não tenho tempo, ou foram simplesmente lacradas naquele antigo baú com dobradiças enferrujadas pela temerosa cautela de abrir uma caixa de Pandora, estão pequenos prazeres, como reler antigos cartões de aniversário ou que acompanharam as minhas flores favoritas, ou mesmo os escritos ao acoso, sem qualquer motivo que pudesse ser mais especial que o mero sentimento neles derramado... prazeres como ouvir repetidas vezes aquela música de que eu gosto tanto e que me causa sensações inenarráveis sem qualquer explicação razoável ou sensata que o meu consciente conheça; ou aquela outra que marcou pra sempre e é melhor nem ouvir mesmo, porque desperta sensações que definitivamente ficam melhores adormecidas... prazeres como me dar ao luxo de dormir até acordar, sem lembrar que existe despertador ou hora marcada pra fazer qualquer coisa - ainda que seja alguma necessidadade vital, como comer - e quando decidir acordar não me sentir culpada por ter perdido aquele precioso tempo que poderia ter "aproveitado" em alguma ocupação entediante e sem fim... prazeres como comer um monte de porcarias engoradativas e sem qualquer valor nutritivo pelo simples prazer do gosto e do cheiro de infância que elas me proporcionam... e por falar em infância, prazeres como tomar banho de chuva até ficar gripada, ou então sentar na areia da praia ou no telhado e ficar ali ilhada pela magia hipnótica da lua durante uma infinidade incalculável de minutos (e viajar até a lua... ou com a lua... ou na lua... ou pra lua), evitando até respirar pra não estragar a singularidade daquele encontro cósmico... Como é que eu tenho conseguido ficar tanto tempo sem isso???

Como eu disse antes, é geralmente uma situação tola e banal que faz a gente se dar conta do quanto está se distanciando do que é realmente importante na nossa vida e perceber que ao invés de viver, está apenas SOBREvivendo... E de tanto correr e lutar por coisas que muitas vezes nem paramos pra avaliar quanto valem pra nós, acabamos esquecendo de dar a outras o devido valor, ou esquecendo os nossos valores, ou esquecendo o nosso próprio valor... Ontem eu percebi isso tão claramente! Ontem alguém, do alto dos seus 12 anos de idade e com toda a autoridade concedida pela sabedoria que a inocência impõe, me ensinou (e espero sinceramente ter aprendido) uma das lições mais importantes da minha vida... Talvez por essa razão, hoje o meu despertador mental me acordou tocando
Don’t stop believing
, do Journey (será que alguém ainda ouve Journey?! Será que alguém aí já ouviu falar do Journey?!), uma entre as muitas que há tempos eu não parava pra ouvir... e me permiti um daqueles prazeres de que já havia-me esquecido. Ouvi a música uma dúzia de vezes, assisti ao vídeo umas 3 ou 4, e fiquei tentando entender que mensagem subliminar pode estar escondida por baixo daquela camiseta com estampa de onça pintada do vocalista… Seria um sugestionamento implícito, uma forma tácita de imprimir no subconsciente do expectador a idéia de acreditar naquilo que se deseja com a ferocidade felina?! Foi aí que senti que a minha fé anda insignificantemente minúscula, que minhas preces parecem inaudíveis e como tenho gasto o meu tempo fazendo mais o que supostamente devo, preciso ou "tenho que", em lugar daquilo que realmente quero ou acredito, mas ainda assim... I don't stop bilieving!


Just a small town girl, livin' in a lonely world
She took the midnight train goin' anywhere
Just a city boy, born and raised in South Detroit
He took the midnight train goin' anywhere

A singer in a smoky room
The smell of wine and cheap perfume
For a smile they can share the night
It goes on and on and on and on

Strangers waiting, up and down the boulevard
Their shadows searching in the nights
Streetlights, people, living just to find emotion
Hiding, somewhere in the nights

Working hard to get my fill,
Everybody wants a thrill
Payin' anything to roll the dice
Just one more time

Some will win, some will lose
Some are born to sing the blues
And now the movie never ends
It goes on and on and on and on

Strangers waiting, up and down the boulevard
Their shadows searching in the night
Streetlights, people, living just to find emotion
Hiding, somewhere in the nights

Don't stop believin'
Hold on to that feelin'
Streetlight, people

Don't stop believin'
Hold on to that feelin'
Streetlight, people
Don't stop
(Journey: Don't stop bilieving - Composição: Steve Pery/Jonathan Cain/Neal Schon)

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