"A vida é uma farsa que todos devem representar. A nossa pálida razão esconde-nos o infinito..." (Rimbaud)
"Vida é o drama criativo da existência." (Arthur da Távola)
“A vida, afinal, talvez seja uma encenação do desespero”. (Alberto Raposo Pidwell Tavares)




sábado, 16 de agosto de 2008

Vôo sem destino

"Um dia, uma pequena abertura apareceu num casulo; um homem sentou e observou a borboleta por várias horas, conforme ela se esforçava para fazer com que seu corpo passasse através daquele pequeno buraco. Então pareceu que ela havia parado de fazer qualquer progresso. Parecia que ela tinha ido o mais longe que podia e não conseguia ir mais. Então o homem decidiu ajudar a borboleta: ele pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta então saiu facilmente. Mas seu corpo estava murcho, era pequeno e tinha as asas amassadas. O homem continuou a observá-la, porque ele esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e se esticassem para serem capazes de suportar o corpo que iria se afirmar a tempo. Nada aconteceu! Na verdade, a borboleta passou o resto de sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar!"

Tal como uma borboleta que saiu prematuramente do seu casulo, por maior que seja a minha vontade de voar, tenho agora as minhas asas debilitadas, amassadas e murchas, como planta recém-podada cujos galhos parecem não mais brotar... Tento insistentemente esticá-las, movê-las, esperando que se fortaleçam à luz do Sol, mas é em vão... um sacrifício inútil, pois não há mais Sol. Somente um frio intenso, lancinante, impiedoso castiga minh'alma congelando-me as asas, tolhendo-me os pensamentos, movimentos... Mas eu não quero, não posso desistir... Em vão tento bater mais depressa as asas, mas parece que quanto maior o meu esforço, mais frágeis elas se tornam... e num ato de insano desespero, deixo-me cair do lugar mais alto onde posso chegar na expectativa de que, mesmo sem poder controlar meu vôo, possa ao menos ser conduzida ao sabor do vento e, quem sabe, encontar um porto-seguro onde eu possa me abrigar até que o mau tempo passe... Então experimento a assustadora sensação de despencar em queda-livre no vazio - vazio de sonhos, de esperanças, de certezas... Não sei para onde estou indo, sequer sei se meu corpo frágil vai suportar a impetuosidade do vento... Mas já não importa! Fecho os olhos e apenas experimento a sensação do vôo, sem saber se vou resistir a atrocidade do temporal ou se minhas asas irão simplesmente espatifar-se ao longo do trajeto. Tudo o que sei é que preciso ter de volta o Sol... PRECISO, indispensavelmente! Só ele poderá salvar-me desse frio que trucida meu corpo e minha alma, envolvendo-me com sua luz... aquecendo-me com seu calor... Caso contrário, meu destino estará selado: voltarei a ser apenas a lagarta rastejante de outrora...

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